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ANT: novas perspectivas para as ciências sociais

Atualizado: 22 de mar. de 2021


Francisco Pontes de Miranda Ferreira


O sociólogo Bruno Latour (2012) levanta alguns argumentos relacionados com as ciências sociais na fase atual da humanidade: O social não pode ser compreendido como uma espécie material ou um domínio; Não temos como precisar todos os ingredientes que compõem o domínio social e precisamos retornar ao social como um rastreamento de conexões; O que agrega a sociedade é a vida em comum; A sociedade é um dos elementos de um conjunto de objetos e fenômenos e a sociologia necessita buscar essas associações em que nem tudo tem um contexto social.

Na atual fase do mundo, o ser social não está seguro e nem faz parte de um conjunto bem formado e Latour defende uma nova abordagem para a sociologia que chama de “sociologia das associações”. Por sua vez, este tipo de abordagem nos leva à ANT (Actor-Network Theory). O autor denomina a sociologia tradicional de “sociologia do social” e a ANT surge justamente com a crise da modernidade e as inovações tecnológicas e científicas contemporâneas, principalmente a internet. Nessa abordagem, os não-humanos, como as rochas, as máquinas ou as bactérias fazem parte da composição e da teoria social. Os elementos não-humanos são atores e socialmente compatíveis. A composição de um espaço urbano, por exemplo, é dinâmica e possui atores humanos e não-humanos. Precisamos estar mais atentos às novas instituições, conceitos e materiais que reagrupam o social, defende o autor. A sociologia do social não consegue encontrar essas novas associações e, portanto, necessitamos partir para a sociologia das associações. Temos que reconhecer nos atores a sua capacidade de elaborar suas próprias teorias e tentar compreender a composição da existência coletiva em que o social está em permanente movimento e é absolutamente fluido. Não devemos limitar os seres existentes apenas no mundo social (LATOUR, 2012). Para as ciências sociais interessa estudar as redes da sociedade para compreendermos melhor a dinâmica e composição dos coletivos. Toda ação humana deixa rastros visíveis e invisíveis. Neste contexto complexo temos atores humanos quanto não-humanos que servem como agentes. Os não-humanos são os outros seres vivos, objetos, documentos, produções simbólicas. Nessa análise incluímos tanto o pensamento e a produção científica quanto a não-científica. Trata-se de uma trajetória que constrói o pensamento e as ações coletivas. As redes assim produzem o próprio meio e formam uma simetria do conjunto em que estão presentes continuidades e descontinuidades.

Quando analisamos as ações e comportamentos de um coletivo social, podemos resgatar alguns princípios da Teoria Ator-Rede (ANT). Os grupos sociais produzem rastros como os utilizados por Sherlock Holmes ou Freud. Para a psicanálise, o inconsciente revela resíduos de realidades profundas e no mundo atual estes rastros, que estão presentes na internet, facilitam o setor comercial e publicitário, mas podem ser de grande uso para as pesquisas sociais também. Podemos trabalhar os rastros como índices, provas e evidências e como inscrições das ações em que mediadores proliferam, formando-se um coletivo social. No primeiro caso, os algoritmos automatizados são utilizados pelo marketing digital para comercialização de serviços e produtos e para influenciar comportamentos. O segundo caso é extremamente útil para a leitura dos processos sociais em que aspectos diversos presentes no mercado, no capital, nas relações de poder e no simbólico explicam processos sociais. Nos auxiliam, portanto, a tecermos o social e expressarmos as estratégias políticas e cognitivas de um grupo social. O social emerge das ações, associações e redes. Nenhuma ação é individual, mas coletiva e deixa rastros. Nos interessa a composição de coletivos com suas ações, controvérsias, contradições, disputas e negociações que, por sua vez, redefinem a própria rede. O coletivo encontra-se em permanente movimento e formação e as ações em rede são distribuídas e podem produzir efeitos inesperados e incertezas. A composição deste mundo comum torna-se uma ação política que constrói a própria sociedade. Assim podemos utilizar os fenômenos coletivos para ampliarmos a participação dos atores e a comunidade, ganhar capital político, agir politicamente e transformar (BRUNO, 2012).

Referências BRUNO, F. Rastros digitais sob a perspectiva da Teoria Ator-Rede in Revista FAMECOS Vol. 19. Porto Alegre, 2012. LATOUR, B. Uma Introdução à Teoria do Ator-Rede. EDUFBA, Salvador, 2012. Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br).

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