- jornalpoiesis
ainda sem vagas

Marcelo J Fernandes
meu poema
não paga esses boletos
urgentes e iníquos
que acossam prazos
e nem quita o consignado
que esgorja viúvas
entre terços e drágeas
meu poema
não retém o barranco
ou a água que afia
seus vis punhais de argila
nem restitui a falta
súbita e funda
dos náufragos sem nau,
tragados por demãos de descaso.
meu poema
não oxigena
as mechas da moça que flana
lépida, com a bolsa
da mesma cor
na rua com nome de data
a propósito
nem quita a enfiteuse
não prende o prevaricador
nem a atenção
o poema quase não serve
não paga
não mede:
o poema, Ribamar,
não cheira, nem fede.
Marcelo J. Fernandes é poeta, doutor em Literatura, membro da Academia Petropolitana de Letras.