Jornal Poiésis
ABUSADOR! SEU ESPELHO QUEBROU...
Atualizado: 17 de ago. de 2020

Biancha Mamede*
Quem é o espelho? A vítima ou sobrevivente.
Um dos padrões observados em um abusador é espelhar na sua vítima o que ele é. Está disfarçado pelos xingamentos e humilhações: burro (a), você não presta pra nada, infiel etc. Mas isso é depois que a pessoa caiu em sua sedução e manipulação. Tudo é muito sutil e maquiavélico aqui neste universo, afinal não é por acaso que os (as) sobreviventes desenvolvem doenças psicológicas e até físicas.Quem é o espelho? A vítima ou sobrevivente. Um dos padrões observados em um abusador é espelhar na sua vítima o que ele é. Está disfarçado pelos xingamentos e humilhações: burro (a), você não presta pra nada, infiel etc. Mas isso é depois que a pessoa caiu em sua sedução e manipulação. Tudo é muito sutil e maquiavélico aqui neste universo, afinal não é por acaso que os (as) sobreviventes desenvolvem doenças psicológicas e até físicas.
Acompanhe o relato de uma vítima, que já conseguiu identificar a situação e tenta sair da relação:
“... apesar dos xingamentos e pedidos de perdão misturados, arrumei minhas coisas, mas olhei para os meus filhos e paralisei. Sei lá, mexeram com meus pensamentos e meus pensamentos são os meus inimigos. Sinto que estou presa e não sei como explicar. Tentei me separar por quatro vezes e ele já me abandonou tantas vezes que parei de contar. Mentiras, traição, agressão verbal e física. Ele nunca se importou comigo, porque sempre são muitas dívidas que ele deixa para trás e que eu acabo regularizando. Não sei o porquê de não conseguir e isso dói na alma...”
A relação se torna abusiva quando uma das partes se “veste” de um poder para manipulação e controle do outro. Identificar se você está em um relacionamento assim pode ser mais difícil do que parece, pois todo o processo de manipulação e agressão psicológica e até física ocorre de forma velada e com pequenas privações.
Não é raro que a vítima e/ou sobrevivente escute de amigos e familiares elogios ao abusador. Uma das características é a invalidação da vítima; socialmente é um comportamento e entre quatro paredes outras estratégias comportamentais. Mascara a realidade exercendo jogos mentais, mexendo com a auto-estima e a capacidade de percepção da realidade.
Num primeiro momento estão presentes as agressões verbais, xingamentos, alguns gritos, algumas humilhações e incoerências, a fim de tornar a vítima confusa e duvidando de sua sanidade. Há também o condicionamento para que tudo seja feito da forma como o abusador deseja, afinal “o mundo orbita em torno dele”. Cada “obediência” um carinho, sendo que do nada haverá gritos e humilhações, gerando ansiedade na pessoa e futuramente outros sintomas típicos de estresse pós-traumático.
Na segunda fase há uma evolução na manipulação psicológica e nas agressões físicas. Quanto mais a vítima tenta esconder e salvar a relação mais o abusador se sente dominante. Tapas, beliscões, hematomas, empurrões etc. Geralmente nessa fase a vítima já se percebe em um relacionamento abusivo, mas muitas vezes sem a menor força para sair e sem apoio também. Afinal foram anos preservando a imagem do seu carrasco!
Caso a vítima consiga sair, com apoio de amigos, família e com ajuda profissional, é nesse momento que o abusador sente que está perdendo seu “brinquedinho”, digo, o controle. Nesse instante as luzes se acendem e o abusador encena a mais perfeita cena de arrependimento da história da dramaturgia. Promessas, flores, viagens, passeios, romance etc. Infelizmente nesta fase muitas mulheres acreditam que o abusador irá mudar, que as ama e perdoa, voltando para fase inicial dos abusos.
É importante salientar que existem alguns transtornos que fazem parte do perfil do abusador, mas não é o caso rotular sem que haja uma avaliação profissional, contudo podemos afirmar com toda a certeza que: “ELES NÃO MUDAM!” Todo ser humano capaz de exercer este tipo de relação não está saudável mentalmente.
Quem vive ou viveu em um relacionamento abusivo, precisa de ajuda principalmente da família e dos amigos, os quais farão sua rede de segurança. A busca por um profissional na área de saúde mental auxilia na identificação e superação do problema.
A prevalência de a vítima ser feminina é maior, contudo já há casos registrados de homens que denunciaram relacionamentos abusivos causados por suas parceiras ou parceiros.
Existem os serviços públicos criados para ajudar mulheres a superar a violência psicológica e/ou física causada por um relacionamento abusivo. Qualquer pessoa pode fazer denúncias anonimamente ligando para o número 180, da Central de Atendimento à Mulher.
Em Araruama há o Projeto SAP-Mulher (Sala de Acolhimento Psicológico para Mulheres em Situação de Violência Doméstica). Contato: 2665-8804.
Ame sua vida e ame-se a si mesma. Assim você conseguirá discernir o que é bom para você e o que te faz mal, e com isso conseguirá fazer as escolhas certas para sua felicidade e bem-estar.
Biancha Mamede é psicóloga, terapeuta cognitiva comportamental, hipnoterapeuta. Atendimento online. Contatos: (22) 99238-3231