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  • Foto do escritorJornal Poiésis

A voz do silêncio


Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil



José Hélito Nunes de Marins*

A sociedade humana ao longo dos séculos se vê acometida por uma série de quadros patológicos e psicopatológicos que trazem problemas agudos aos indivíduos, sendo um desafio sua compreensão na busca de equacionamento dos dramas, quando menos de amenizar a ação desagregadora desses agentes.


Neste desfilar de questões geradoras de interferência na matriz psico-física, anoto o autismo, que analisado por Bruno Bettelheim, recebeu considerações no seu livro “A Fortaleza Vazia” de conotações prejudiciais a elemento feminino, ao se referir que o citado transtorno era proveniente do relacionamento estéril e frio da mãe com o filho, difundindo o pensamento de Léo Kanner: “mães de geladeira”. Esta tese, destituída de legitimidade científica, capitulou diante dos fatos, devido a absurdidade de suas ideias.


O psiquiatra suíço Eugene Bleuler, nos idos de 1911, realizando estudos em relação a pessoas que fugiam da realidade e do contacto social, utiliza pela primeira vez o termo autismo.


Cérebros da ciência se debruçam em pesquisa em torno da patologia inquietante. Léo Kanner, psiquiatra austríaco, verifica através de suas investigações científicas que crianças internadas em determinada clínica apresentam um comportamento de isolamento. Constata, surpreso, déficit na comunicação e posteriormente, classifica o quadro como autismo infantil precoce.

Com o avanço das pesquisas as academias têm contribuído sobremaneira para entender o autismo. Afirma Silva (2012, p.11) sobre o TEA (transtorno do espectro autista): “Caracteriza-se por um conjunto de sintomas que afeta as áreas da socialização, comunicação e do comportamento, e, dentre elas, a mais comprometida é a interação social”.

A neurociência, com estudos variados, vem contemplando o desvendar do contexto cerebral, favorecendo a inclusão do ser no âmbito da sociedade. Um dos fatores preponderantes é que o encéfalo possui uma neuroplasticidade, onde a canalização de estímulos adequados pode alcançar melhoras importantes na pessoa autista. Vale ressaltar que não existe nos tempos que correm a sonhada cura.

Observa-se que no manejo da inclusão se faz necessário um atendimento multiprofissional, a fim de atuar de maneira satisfatória para o desenvolvimento possível das habilidades.

Em detectando as limitações do autista, a família, a escola, os profissionais de saúde e da educação, deverão mobilizar esforços, a fim de inserir o indivíduo no contexto social.

Temos a escola como instituição que fomenta o saber sistematizado no transcorrer do processo histórico. E neste atelier acadêmico, a falta da formação para atender os diferentes tem sido flagrante, com exceções respeitáveis. Para muitos alunos com necessidades educacionais especiais o ambiente, que deveria incluí-lo mais o segrega. O aparelhamento dos profissionais, assim como abordagem clínica se faz fundamental aos autistas. Essas são algumas das facetas que emperram o alargamento do desenvolvimento do discente, não deixando de mencionar em destaque a participação da família.

Expondo conceitos em torno do transtorno do espectro autista, assim se expressa Teixeira (2012, p.178): “Hoje sabemos que o autismo é um transtorno do comportamento que possui “janelas de oportunidade” para intervenção. Isso significa que, se esperarmos para agir, perdemos chances ímpares de promover a melhora desse paciente e limitamos a chance dele de obter sucesso no tratamento de determinados sintomas”.

Desta forma, as “janelas de oportunidades” precisam ser ativadas com diligência, para que ações educacionais, clínicas e terapêuticas oportunizem uma melhor qualidade de vida ao autista, diminuindo os déficits de interação e comunicação social que prejudicam a funcionabilidade humana no trabalho, na família, cognitivamente e nas expressões socioemocionais.

Um tema, rejeitado por muitos tem emergido nos núcleos de estudos do comportamento humano de maneira substancial. Trata-se da afetividade, que deverá transitar no contato com o autista. Um professor que manifeste atenção e amizade sentida pelo aprendente poderá realizar um trabalho extraordinário. Pois os estímulos que serão desencadeados em sala de aula produzirão os neurotransmissores da aprendizagem, tais como: serotonina, dopamina e noradrenalina. Aliado a este procedimento, incluímos como fator importante a prática de uma aula prazerosa e motivadora.

Em determinadas unidades escolares a sala de recursos é um elemento colaborador com o ambiente de aprendizagem, completando procedimentos que visem intensificar a melhoria da área motora, linguística, socializante e acadêmica. Para tanto, esses espaços devem ser multiplicados,facilitando a aprendizagem individualizada. As leis, inúmeras, prodigalizam ao autista o respaldo necessário para sua inserção no conjunto da comunidade contemporânea.

Quando docentes e equipe de suporte pedagógico possuem formação específica em educação especial e a direção tem conhecimento nesta área, a acolhida da pessoa com transtorno do espectro autista se faz eficiente e o seu desenvolvimento dentro do perfil biopsicossocial vislumbra-se promissor.

O futuro nos acena com recursos extraordinários para diminuição dos déficits de funcionabilidade provocados por este transtorno, certos de que o presente já viabiliza ações que vêm a demonstrar que o futuro é agora. BIBLIOGRAFIA: SILVA BARBOSA, A.B.et al. Mundo Singular. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2012. TEIXEIRA, G. Manual dos Transtornos Escolares. 5a ed. Rio de Janeiro: Editora Best Seller Ltda, 2014. *José Hélito Nunes de Marins é Professor, Neuropedagogo, Psicopedagogo, Supervisor Educacional (SEDUC Araruama), Orientador Educacional e Pedagógico, Membro da Aaraletras (Academia Araruamense de Letras).

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