Jornal Poiésis
A viagem
Atualizado: 8 de fev. de 2021

Flávia Joss*
Eu amo janeiro! Além de ser o mês do meu aniversário, é o mês em que posso tirar as tão sonhadas férias, para ler, descansar e viajar. Como já mencionei em outra crônica, percorro os caminhos do Brasil dentro das possibilidades do meu minguado bolso. Na crônica de hoje vou compartilhar as aventuras de uma viagem que fiz em janeiro de 2006.
Sou filha de um pernambucano arretado e apesar de amar a cultura nordestina, ainda não conhecia a terra que tanto me encantava. Foi então que decidimos durante o ano de 2005 que se meu marido conseguisse tirar férias junto comigo, faríamos uma viagem de carro até Pernambuco. Comentamos com três casais de amigos que quiseram nos acompanhar nessa aventura. Traçamos nosso roteiro: 1ª parada Salvador, 2ª parada Recife, 3ª parada Pombos.
Viajamos em comboio. Eu e meu esposo, minha mãe e dois filhos pequenos num Logos sem ar condicionado. Entre paradas não planejadas, a espera pelos amigos e vômitos de crianças, concluímos o primeiro dia. Era noite e precisávamos parar para dormir. Naquela época não havia GPS, WhatsApp, TripAdvisor e todas essas maravilhas tecnológicas que facilitam a vida. O negócio era ficar atento às placas e ler o Guia 4rodas.
Como não havíamos fechado onde iríamos parar com antecedência, fomos parando nos hotéis de beira de estrada, até que decidimos pernoitar no hotel Ipanema, em Santo Antônio de Jesus, na Bahia. O hotel não era lá grandes coisas, porém o cansaço era imenso. Na recepção uma senhora nos atendeu e uma adolescente nos observava de soslaio. Entramos na suíte, senti cheiro de cachorro. Achei por bem não usar as roupas de cama que nos aguardavam, preferi usar as que eu havia levado. Enfim, dormimos o sono dos justos. Fomos tomar o café da manhã na padaria ao lado, enquanto conversávamos e nos aprontávamos para colocar novamente o pé na estrada, vi que a adolescente, filha da dona do hotel, andava em minha direção acompanhada de dois policiais.
_ Foi ela, aquela ali! - Embora olhasse para mim, não imaginei que fosse comigo e continuei saboreando meu café. Só me dei conta do que estava acontecendo quando ela se aproximou da mesa.
_ Ela roubou meu lençol Teka, pode abrir a mala, é um lençol azul. – Disse a menina para o policial. Nesse momento todos entenderam o que estava acontecendo: Eu estava sendo chamada de ladra. A confusão se estabeleceu. Fiquei muito nervosa, meu marido foi conversar com o policial, a proprietária e mãe da garota chegou pedindo desculpas e levando-a de volta. Que loucura! Falaram que ela tinha problemas psicológicos e que não era a primeira vez que uma situação assim ocorria. Fato é que ela deu detalhes do lençol... e não é que o lençol que eu levara era azul e da marca Teka? Mistério...
Seguimos nosso caminho como havíamos planejado. Dias incríveis em Salvador e em Recife. A tia do meu companheiro era proprietária de um sítio em Pombos, combinamos de ficar uns dias por lá, era relativamente perto de Cabo de Santo Agostinho, sendo assim, aproveitar a praia estava totalmente garantido. Ele mataria a saudade da tia e de quebra nos apresentaria. Perfeito, né? Seria se o sítio não fosse infestado de pererecas, das quais eu tenho pânico. Consegue imaginar como foram meus dias naquele lugar? Eu estava aterrorizada! Aqueles bichinhos apareciam em qualquer lugar onde eu estivesse presente. O que era para ser divertido se tornou um stress. Eu estava disposta a voltar para o Rio antes do planejado, todavia decidimos alugar uma casa na Enseada dos Corais. A última parte da viagem estava a salvo. Que lugar! Há tantas maravilhas espalhadas por Pernambuco. Fomos a Porto de Galinhas e realizei um dos meus muitos sonhos.
Nossa primeira viagem longa deixou muitas lembranças... Uma tragicomédia para ninguém botar defeito.
Janeiro 2020.
*Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa e Poesia Falada.