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  • Foto do escritorJornal Poiésis

A Metrópole jamais planejada

Atualizado: 8 de jun. de 2020


Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas


Francisco Pontes de Miranda Ferreira*


No século XVIII Londres se tornou a primeira metrópole do mundo. A abertura de nova ruas, a construção de cinco novas pontes sobre o rio Thames proporcionaram a base para a expansão urbana necessária para a capital do império. As aldeias camponesas do entorno foram logo sendo ligadas à cidade e se tornando bairros de construção contínua. Os novos bairros eram compostos de praças planejadas centrais e ruas adjacentes. A população de Londres em 1750 era de 650 mil habitantes e em 1800 ultrapassou um milhão. O centro da cidade (The City) se tornou quase exclusivamente composto de instalações comerciais e financeiras. Essa tendência se reproduziu nas grandes cidades de todo o mundo. As instituições financeiras e as grandes empresas comerciais investiam em seus prédios novos iniciando-se um processo de permanente substituição de construções antigas por estabelecimentos mais modernos e adequados às novas demandas. Legislações foram criadas para ordenar e uniformizar a extensão e a renovação urbana como o Road Act, Paving Act, Lighting Act e Building Act de 1774. Apesar de todas as normas a cidade é incontrolável. Toda cidade tende à diversidade e ao surgimento de uma arquitetura eclética. A Londres do final do século XVIII virou uma cidade com construções que seguiam vários motivos como o gótico, grego, romano e até inspirado nas colônias como os estilos indiano e árabe. As avenidas e praças principais, entretanto, seguiam padrões especiais como Regent Street e Oxford Circus. Mas, é claro que todo este planejamento e todas essas normas também tinham a intenção de disfarçar e esconder a pobreza e enaltecer as áreas nobres para a especulação imobiliária. A cidade moderna torna-se assim um cenário como um teatro. A situação econômica também altera as características que imaginavam os planejadores. No início do século XX grande parte das mansões dos bairros mais próximos do centro de Londres foram transformadas em apartamentos. Fato que manteve em cidades como Londres, Paris, Roma e Berlin muito da característica antiga e que não foi reproduzido no Brasil. No Rio de Janeiro e em São Paulo as mansões das famílias tradicionais foram destruídas e substituídas por prédios modernos. Situação que se tornou extremamente problemática para os bairros, não só pela ruptura estética, mas com o excesso de gente e demanda sem o devido acompanhamento dos serviços como transporte e saneamento. Só na década de 1980 é que Rio de Janeiro e São Paulo começaram a criar normas de preservação para as construções históricas. Muitas sem sentido em bairros como Copacabana e Ipanema totalmente descaracterizados. No entanto, importantes para bairros com ainda características do passado em bom estado de conservação como o próprio Centro, Catete, Glória e Cosme Velho no Rio de Janeiro. Prédios antigos protegidos por normas se transformam em escritórios pós-modernos, repartições e empresas públicas, hotéis e hostels, restaurantes, centros culturais e lojas de luxo. Outros muitos, entretanto, viram estacionamentos, depósitos, prostíbulos ou habitações de migrantes pobres e população de rua. A metrópole assim reproduz o próprio sistema de injustiças, diferenças e contradições sociais em seus prédios, ruas e avenidas que planejadores e leis não podem impedir. *Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ) e pós-graduação em História da Arte (PUC Rio), membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.

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