Jornal Poiésis
A importância das imigrações e migrações para os territórios

Francisco Pontes de Miranda Ferreira*
A imigração de milhões de pessoas das periferias do mundo para os Estados Unidos e a Europa e as migrações internas do campo para a cidade e das cidades menores para os grandes centros urbanos em todo o mundo provocaram desnacionalização, desterritorialização, reterritorialização e quebra de identidades. A imigração rompeu fronteiras culturais e modificou profundamente as sociedades mais ricas que receberam os milhões de imigrantes e migrantes. Estamos assistindo a emergência do cidadão global multicultural e estes movimentos provocados pela pobreza acabaram enriquecendo a cultura dos países e das cidades receptores.
O exemplo de Londres
A diversidade tornou Londres o centro de ideias políticas do século XIX. A disseminação de ideias e de movimentos faz parte da enorme quantidade de imigrantes, exilados e revoltados que se concentravam nesta cidade como Kropotkuin, Marx e Engels. Numa cidade onde a crise de emprego e dinheiro sempre foi uma constante para pobres locais e imigrantes. Desde a época dos romanos, imigrantes de todo o mundo chegavam a Londres criando a diversidade cultural e étnica da metrópole. Em 1555 a cidade recebeu uma leva importante de africanos que foram trabalhar como escravos. A escravidão em Londres só foi abolida em 1772. Vários mouros também ocuparam a cidade desde o século XVI. O africano Billy Walters, conhecido como “The King of the Beggars” (Rei dos Mendigos) se tronou líder dos pobres de Londres e era reverenciado pelos meninos de rua. Os casamentos inter-raciais sempre foram mais comuns nas áreas mais pobres da cidade. No início do século XXI, Londres possuía uma população de cerca de dois milhões de não brancos. Revoltas marcantes fazem parte da história da imigração na cidade como a de 1958 em Notting Hill que teve início com a morte de Kelso Cockrane, original das Antilhas. A revolta nas ruas do bairro acabou contribuindo para a formação de uma cidade mais tolerante e com projetos sociais. Diversidade de culturas e etnias são importantes para a criatividade e a construção de justiça social. A vitalidade e busca constante por novas oportunidades por parte dos migrantes e imigrantes de uma grande cidade são essenciais para a construção de mais justiça. Novas identidades surgem e assim o blues acabou influenciando o rock de Londres de Eric Clapton, Led Zeppelin e Rolling Stones.
A humanidade planetária
Os nordestinos que migraram para as metrópoles do Brasil como Rio de Janeiro e São Paulo nos anos 1950 a 1970 com a industrialização e a urbanização acelerada contribuíram muito para o enriquecimento social, cultural e econômico destes centros urbanos. Não podemos imaginar Rio ou São Paulo sem os nordestinos. Grandes metrópoles como Nova York, São Paulo e Londres possuem até bairros de imigrantes. Mas, mais importante do que isso, é sentirmos a presença destes imigrantes e migrantes no cotidiano das grandes cidades. A globalização cultural e a convivência intercultural e interétnica serão a principal forma de evitarmos os preconceitos, a segregação e as desigualdades e compreendermos a verdadeira colaboração de uma humanidade planetária.
Credito da Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ) e pós-graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.