Jornal Poiésis
A flor de Gadú e a flor de Lucinda

Matheus Fernando*
Bela flor, pouco disse
Gêmea flor, que cresceu no rio…
Essa é a flor de Gadú, linda, bela! Seus cabelos voam diante do vento rasante que a visita ao final das tardes, levando seus pólens, seus óvulos para os machos que moram no campo aberto duas esquinas a frente.
A fúria da beleza
Essa flor que nasce na trivialidade do mato de uma rua paralelepípeda,
que me deu de chorar …
Essa, a flor de Lucinda, sorteada pela natureza de maneira desonrosa exatamente por ter sido concebida no desprazer de uma rua cimentada e calçada por quem passa sem perceber a vida. Mas que também é linda e está mais linda por trazer o pouco de vita, de vital para os humanos que vivem fantasias e esquecem do real. Aqueles que passam por essa rua e que não percebem essa singela flor.
Não a gêmea flor, que cresceu no rio… todavia a flor que se pudesse teria escolhido outro lugar para nascer.
Já a flor, aquela flor plantada junto a ribeiro de rios. A flor de Gadu, que dá seu fruto na estação certa, cujo a folha não cai e por onde soprada prospera. Essa tem prazer de sorrir para o sol, já que há água o suficiente para matar a sede.
A flor de Lucinda não. Ela não tem como reservar muita água, ainda mais que sua areia é lavada, torcida e colocada para secar no varal dos homens que a maltratam usando seus pregadores.
Uma mais linda que a outra. Uma no deserto árido que é uma rua paralelepípeda na cidade grande. Outra no harém dos cravos que é a beira de um rio! Destinos diferentes, belezas singulares. Uma abundantemente cortejada, outra desde semente abandonada.
Uma bela flor que cresceu no rio.
Noutra a fúria da beleza de uma singela flor que cresceu na rua paralelepípeda.
Uma mais linda que a outra. Uma com o futuro promissor, outra que tímida sorri no calor e tem fé para o dia seguinte. A vida dos homens ...
referências: Bela flor - Maria Gadú (música)
A fúria da beleza - Elisa Lucinda (poesia)
*Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.